Na tarde desta quarta-feira, 2, a PR/SC abriu as portas ao terceiro setor para receber, ouvir e se emocionar com as histórias de quatro pessoas que ousaram ir além e decidiram fazer a diferença na vida de outros seres humanos. O evento "Inspiração e Ação: Transformando Mundos e Pessoas", que marcou os 30 anos da Constituição Federal e os 70 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, trouxe à sede do MPF catarinense Samuel Schmidt, criador do projeto Cidades Invisíveis; Vitor Belota, fundador da ONG Litro de Luz Brasil; e Bruna Kadletz, cofundadora do Círculos de Hospitalidade. O debate foi mediado pelo apresentador da NSCTV Edsoul Amaral que, por meio do seu trabalho, busca dar visibilidade a comunidades carentes da Grande Florianópolis.

A coordenadora da Coordenadoria de Gestão de Pessoas (CGP) e do Programa Bem Viver, Cynthia Orengo, abriu o evento falando da importância de se discutir direitos sociais nesse momento, trazendo o questionamento de Eduardo Galeano sobre a utopia, sobre a reflexão e a ação que move os idealistas. "A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que caminhei jamais consegui alcançar. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu nunca deixe de caminhar", concluiu a coordenadora.

Para o procurador Fábio Oliveira, substituto da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC), o evento veio em um momento muito oportuno para o MPF e para o Brasil. Para ele, nosso país ainda é muito pobre e miserável e, se tivesse um outro grau de estrutura, talvez nem precisássemos discutir ações como o "Litro de Luz", responsável por iluminar lugares onde a energia elétrica ainda é apenas um sonho. O procurador trouxe dados que apontam como o país é carente de ações sociais como, por exemplo, o dado que mostra que 17% da população brasileira, por não ter acesso ao gás, ainda utiliza fogão a lenha para cozinhar seu próprio alimento.

Filho da INÊSquecível - Edsoul abriu sua fala se reportando a sua origem. "Filho do gueto, filho da miséria, filho da dona Inês (inesquecível)". Para ele, sua mãe foi o "anjo negro" que sempre lhe deu forças para lutar por um "lugar ao sol", mesmo enfrentando grandes dificuldades na vida, como a fome e o preconceito. Além de sua mãe, para ele o movimento social hip hop foi outro grande incentivo para que gostasse de leitura. Assim, com o objetivo de estudar os grandes líderes negros que fizeram a diferença, Edsoul começou a devorar livros e mais livros. Para ele, enquanto o tão sonhado processo igualitário não chega, a missão que tomou para si foi de "cuidar dos seus", dando visibilidade, por meio da comunicação, às demandas das populações mais carentes.

Fotografando a invisibilidade - Samuel Schmidt, criador do projeto Cidades Invisíveis, do qual  o programa Bem Viver,  de bem-estar e qualidade de vida no trabalho do MPF/SC é parceiro, explicou a evolução do projeto desde sua origem. Apaixonado por fotografia, Samuel começou a entrar sozinho em diversas comunidades de risco da região para fotografar a dura realidade das pessoas que moravam nesses locais. Porém, ele começou a criar laços de afetividade com os moradores e passou a desenvolver projetos sociais. Assim, convidou diversos artistas catarinenses para fazer uma releitura das fotografias, que se transformaram em lindas estampas de camisetas. Samuel revertia o dinheiro das vendas para sanar as demandas pontuais da comunidade. Segundo ele, o projeto está numa segunda fase e a ideia atual é capacitar e empoderar as pessoas para que elas próprias tenham autoestima a fim de conseguir lutar por seus objetivos.

Círculos de Hospitalidade para os refugiados - Em seguida, a dentista Bruna Kadletz compartilhou um pouco de sua história de vida e de como começou a atuar em causas sociais. Viajando no interior do Maranhão, ela tinha a missão de ensinar higiene bucal a crianças. Mas, ao se deparar com a fome e as condições de vida pelas quais elas passavam, sentiu que seu trabalho era sem sentido. E o que mais a chocou foi perceber como as pessoas estavam anestesiadas diante da miséria. Bruna, então, largou a profissão e começou a viajar o mundo. Fez mestrado em Edimburgo, Escócia, com foco em "deslocamento forçado" e passou a conhecer a realidade das populações refugiadas. Nessa fase foi para os campos de refugiados no Líbano, Jordânia, África do Sul, Palestina, Grécia, entre outros países. Segundo Bruna, a maneira em que ela mais se sentiu agindo de fato em prol da melhora da vida destas pessoas foi quando criou o Círculos de Hospitalidade, fomentando "mais hospitalidade onde há tanta hostilidade". Atualmente ela participa da realização de um documentário "Wayfarers: on the road to our shared humanity" do diretor irlandês, Alan Gilsenan, sobre refugiados que está sendo rodado na Europa.

Iluminando caminhos e ideias - Vitor Belota contou como tudo começou, ao fazer intercâmbio numa comunidade carente de Nairóbi, capital do Quênia, na África, onde atuou como professor. A experiência lhe mostrou uma realidade que mudou sua forma de encarar o mundo. Durante o intercâmbio, para resolver o problema de iluminação da escola onde atuava, conheceu o projeto Litro de Luz pela internet. Vitor fez os primeiros contatos e levou para o Quênia a ideia que seria restrita àquela escola, mas ganhou outras proporções. No retorno ao Brasil, fundou a ONG Litro de Luz. De lá para cá, quando presidia o Litro de Luz, ele e os voluntários, levaram iluminação para milhares de pessoas e junto com o laboratório de Engenharia da UNb, desenvolveram  uma tecnologia que possibilitou que as lâmpadas funcionassem também durante a noite. Em 2017 o Litro de Luz recebeu o prêmio "Saint Andrews Prize For Environment", um dos mais importantes ligados à sustentabilidade, concedido pela Universidade de St. Andrews, na Escócia. Hoje é também gerente de comunidade do Civi-co, um espaço de inovação social inaugurado no final do ano passado em São Paulo, que reúne negócios e organizações sociais.

O evento organizado pela CGP, que contou com expressivo público externo, foi alinhado aos pilares do programa de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) e Bem Estar, do MPF/SC,  Bem Viver, que desenvolve ações de responsabilidade social, voluntariado e sustentabilidade, entre outras. Ao dividir a história de pessoas especiais, o Bem Viver busca incentivar que a própria Instituição - servidores e membros - apoiem ações em prol de uma sociedade mais justa, humana e igualitária.

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